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sexta-feira, 2 de março de 2018

Os Três...





CAPITULO-I





Era uma casa  simples fincada numa área   grande cujo fundo terminava onde lentamente passava  um riachinho sempre crivado de guarus. Num dos lados  da  casa   via-se  uma  chaminé de tijolinhos onde  uma  gaze de  fumaça meneava seu corpo frágil  ao  sabor  do  vento. Na varanda, samambaias de metro  desciam a tocar o chão enquanto um pé de madressilva florescia já  a  alcançar  o madeirame do teto. Era caiada e possuía portas e janelas grandes pintadas de azul.
O quintal varrido por improvisadas vassouras feitas de guanxumas ficava liso de tal forma que as gudes rolavam tranquilas. As folhas das bananeiras pareciam grandes orelhas a ouvirem o que os meninos combinavam  para o dia. As touceiras de cana riscada, mel da terra, estercadas por patos e galinhas que solenemente, depois de ciscarem, descansavam em suas sombras. O limoeiro carregado de mexericas, era assim que  os vizinhos chamavam até saberem tratar-se de limão-rosa. Ali morava o menino Frederico. Há algumas casas abaixo, moravam seus fiéis amigos, Samuel e Natalino.
Cada um com suas habilidades: Natalino conhecia a arte da pesca com linhada ou vara, além das arapucas. Conhecia também  as frutas  do mato, o que era bom e o que não era bom para se comer. Frederico era mais ligado  em inventar ou criar coisas, brinquedos  além da astronomia. Samuel adorava literatura e já rabiscava alguma coisa, mas, parecia que além disso tinha jeito para cuidar de  pequenas feridas  em animais ou gente. Certa tarde, Natalino chegou para jogar bola como haviam combinado. Porém  o seu pé estava inchado, aliás, já fazia algum tempo que sofria com isso. Era só dar uns chutes e o peito do pé direito arruinava muito. Naquele dia, Samuel estava presente e notou o enorme inchaço. Natalino estava sentado à beira do campo e Samuel lhe pediu para expor o pé vurmoso, ele queria dar uma olhada. Tocou levemente e sentiu  que havia algum corpo estranho ali. A pele parecia uma seda de tão fina.
— Olha! Vou puxar viu?
— Caracas, dói!
— Vai deixar ou não?

E perguntando agarrou a ponta e puxou. Puxou de uma vez. Era uma farpa de madeira de uns  dois centímetros. Primeiro, o grito, o sangue e o pus. Depois , o alívio, o sorriso. Dali para  a frente Natalino pode até usar sapatos.

Numa manhã de domingo após o café seu pai, o senhor Bernardo apressou-se a  apanhar o jornal costumeiro. Logo na primeira página em letras grandes um título chamava a atenção.:
— Frederico, venha ver isso aqui!— Alarmou o pai.
Era abril de 1961, quando o cosmonauta Soviético Yúri Gagarin a bordo da Vostok-1, transformara-se no primeiro homem a orbitar o planeta terra numa altitude assombrosa. Concluiu a façanha em 108 minutos. Maravilhado ele exclamou: "A terra é azul".
Porém, por causa desse histórico acontecimento alguma coisa não ficou bem. Isso tornou-se a centelha que deu início a uma corrida espacial sem precedentes entre EUA e URSS, exacerbando ainda mais a chamada guerra fria entre  as duas potências que  já se arrastava desde o final da segunda grande guerra.

"Isso tudo não passa de lorota, propaganda pra vender mais jornais e revistas". Efetivamente não acreditavam que um ser humano colocado dentro de uma  rústica bola de aço pudesse voar tão alto, cair no deserto e ainda sobreviver!
Este era o pensamento da maioria das pessoas que viram a notícia. Gente refratária à coisas  da ciência em geral. A incredulidade era muito forte e tinha lá suas razões exceto para Frederico, aquele menino sempre  adorou tudo relativo à  ciência, principalmente  a espacial e essa não foi diferente.
De imediato o menino se apoderou daquela página de jornal e leu e releu até perder a conta e o sono....
No dia seguinte durante o  recreio da escola chamou seus dois amigos mais próximos, Samuel e Natalino e a eles mostrou com júbilo o pedaço de jornal. Logo estavam rodeados de curiosos que palpitavam a respeito.
— Que tal a gente construir uma coisa assim parecida e brincarmos de viagem espacial?— Perguntou Frederico com os olhos brilhantes.
— E como a gente constrói essa jabiraca?— Gritou Natalino.
— Vamos pensar!— Pensaram?
Uma idéia veio assim como um raio e foi de Samuel.
— Um tambor!
— Batata!— Gritou Frederico. Vamos colocar isso no papel.— Concluiu.
E assim fizeram naquele mesmo dia.

Os três meninos andavam sempre juntos, e assim ganharam o apelido de "os três da vila” sempre acompanhado pelo cão de Frederico que se chamava Turuna.
A vida caminhava tranquila para os meninos. Escola e brincadeiras. Também regulavam na idade, onze para doze anos.
Sara  irmã mais velha de Samuel, já  há algum tempo, demonstrava uma forte queda por Frederico. Quando o via, seu coração acelerava, porém a reciprocidade não era verdadeira e isso deixava a menina quase sempre emburrada. Os estudos, as invenções e criações das traquitanas era o que realmente interessava e ocupava a mente de Frederico.
Depois da aula dirigiram-se os três até o Ferro-Velho do senhor Maneco na esperança de encontrar o que desejavam para a construção de mais uma daquelas engenhocas..
Na entrada mal cuidada, havia um frondoso pé de urucum que além de uma sombra acolhedora forrava o chão com seus ouriços maduros e fendidos pelo calor. Pisando com cuidado entraram  e já começaram a escarafunchar com os olhos, algo que lhes interessasse.
         — Caramba carambolas! Olha lá no meio daquela bagunça toda,— gritou Natalino despertando  o velho que tirava um cochilo:
— O que querem aqui seus moleques? — Esbravejou ele com seu sotaque lusitano.
— É aquele tambor velho ali, o senhor daria ele para nós?— Antecipou Frederico.
— Se me pagam!
— Mas é velho e não serve pra nada seu Maneco!
— Ora! Se não serve pra nada por que querem?
— Caramba carambolas! Não falei que isso não daria certo?— Irritou-se Natalino.
         — Espera!— Gritou Samuel— Quanto custa?
          —Três mangos, preço de balas, sem pechincha!
         Os meninos se reuniram numa conferência. E.
         — O senhor compra garrafas?— Perguntou Frederico.
         — Se for de cerveja pago cinquenta  centavos, pois.
         —Tudo bem seu Maneco a gente volta!

Saíram os três a passos cuidadosos e com olhar de pura traquinagem.  Bastou o velho Maneco dar as costas para se embrenharem em meio àqueles escombros de ferros  garrafas e madeiras e coisas  indefinidas..
— Mas, pegar assim as coisas dos outros, não é o mesmo que roubar?— Perguntou aflito o menino Samuel.
— Não! Se agente pagar depois.— Disse Frederico aprumando o peito.
— Ah é?? Sei não.  Isso ainda vai dar encrenca.— Respondeu Natalino.
— E então?— Perguntou Frederico!
A trapaça se consumara embora não com unanimidade.
Por fim saíram  daquele monte de  coisas e insetos além do calor insuportável e  cada um com duas garrafas,  fingindo entrar novamente se dirigiram até o velho Maneco e trocaram as garrafas por um velho tambor que uns ramos de ipomeia já tomavam conta!
Rolaram o tambor pelo mato até chegarem à casa de Frederico e lá o esconderam sob umas ramagens. Aquilo afinal era segredo de Estado!!
Sujo da cabeça aos pés, Frederico chegou de mansinho evitando se encontrar com sua mãe. Tentou a janela do quarto, porém , sua mãe entre as roupas coloridas no varal o flagrou:
— Pela janela? Onde você  se meteu menino? Olha só para isso, parece que saiu de uma chaminé! Já para o banho!

No meio da conversa apareceu Aninha sua irmã e disse:
— No mínimo estava com Samuel. Vivem, grudados como chiclets. Mãe! ele não deixa o menino em paz.
— O quê? Ciúmes   agora?— Esbravejou o irmão.
Emburrada, Aninha correu para seu quarto e lá se fechou.
Depois do banho e roupas trocadas, saiu o menino Frederico ainda mastigando um pão com manteiga, rumo à  casa de Samuel.
Lá chegando encontrou Sara aos prantos sentada num dos degraus da escada que dava para a cozinha. Os intermináveis soluços  da menina tornavam quase incompreensíveis suas palavras. Num gesto de cavalheiro abraçou-a dizendo:
__ Calma! Calma! O que aconteceu a final?
__ Veja lá dentro! Está morto, viu? Ontem à noite estava bem.

 Frederico ficou trêmulo, angustiado, mesmo assim perguntou:
__ Quem morreu?
__ O meu   ramster  está morto!

Aliviado e disfarçando os tremores nas pernas, consolou-a por um bom tempo tendo-a em seus braços.
O momento era de tristeza, mas a menina se sentia amparada e privilegiada por  estar  junto de quem alimentava  uma paixão. Logo a cor saudável voltara  ao rosto de Sara e um tímido sorriso se fez.
Lá no fundo do quintal, numa cova de um palmo sepultaram o querido bichinho de estimação.  Duas pedrinhas e uma cruz de graveto marcavam o lugar.
A semana foi intensa para os meninos Tudo era um segredo só. Rabiscaram várias vezes num pedaço de papel o que seria  na realidade a tal espaçonave. O tambor caíra como uma luva. Apoiado sobre quatro tijolos, tinha como ogiva, um velho guarda-chuva que ficava meio aberto, escotilha e um fumacê que vinha da queima  de estopas molhado de querosene. Finalmente chegara o sábado, o dia tão esperado do voo inaugural.
Os amigos e convidados foram chegando. Logo, o quintal da casa de Frederico parecia um parque de diversões.
O interessante era que cada viajante teria que dizer uma frase, assim como fizera Yúri Gagarin.
Entre uma viagem e outra, apareceu para surpresa de todos, Dona Amélia, mãe de Frederico, acompanhada do senhor Bernardo, trazendo  um bolo de fubá, um bule com chá mate e  uma jarra com refresco feito de limão rosa. E até um redator do jornal do Bairro.
—“Ah!  daqui de cima a terra parece uma bolinha de sabão solta no espaço. Que linda!”—  Disse um.
— Que bom seria se todos pudessem ver a terra aqui de cima, somos frágeis como uma bolinha de sabão. Disse outro

E assim, os voos foram se sucedendo assim como as frases também até o ultimo viajante.
E foi a tempo pois uma névoa úmida  já tomava conta de tudo, fazendo desaparecer a grande muralha azul e pintando a paisagem de uma cor única, antecipando o lusco-fusco!







CAPITULO-II




A rua onde moravam era simples, descalça batida com cascalho de rio. Do lado de fora da casa de Frederico, junto a cerca viva, havia um banco feito de um velho dormente de estrada de ferro, onde os guris e adultos sentavam e contavam histórias. Também era comum sentar-se nesse banco, simples transeuntes, bêbados e até gente gira da cabeça. Um banco bem democrático!
Era comum acender uma fogueirinha quase todas as noites, mesmo não sendo época delas. Ali em volta do fogo os meninos contavam e ouviam histórias que iam se sucedendo, desde as engraçadas até as mais cabulosas. Esse momento só era quebrado com o apito do guarda noturno, avisando que  já era hora de entrar para casa.
Mas as fogueiras pra valer eram aquelas do mês de junho. E o caminhar do calendário trazia a todos mais uma vez,  a véspera de São João. Pela redondeza haviam alguns arraiais, como o Arraiá da curva reta; o Arraiá do Chicão; e o do João Tibúrcio, esse um dos mais concorridos.
O terreiro do seu Tibúrcio, batido e varrido ficava  um encanto enfeitado com bambus verdes entrelaçados e alguns  vasos  de guembés estrategicamente colocados. Varais com bandeirinhas coloridas se agitavam dando um toque especial à festa. Um enorme portal enfeitado com barba-de-velho convidava a todos.
A grande fogueira alimentada por grossas toras era capaz de arder por uns três dias após a festança. No auge da comemoração as  rezadeiras  vinham em ladainhas de dentro da casa até o lugar onde seria erguido a bandeira ao santo homenageado. Então depois de longa espera o mastro era fincado, acompanhado por um ensurdecedor espocar de fogos e por fim lá em cima  balançava mais uma vez, a bandeira pra São João Batista, início então dos comes e bebes que fartavam sobre compridas mesas, dentro e fora da casa.
Mas, Frederico e sua turminha não estavam ali somente por causa dos quitutes e doces que a festa oferecia. As varetas dos rojões que acabavam de ir ao céu, eram disputadas pau a pau pela gurizada como se valessem uma  medalha de ouro. E caiam em lugares dos mais difíceis como num mato fechado ou num charco que  havia.
Por lei os balões chamados caseiros, balões grandes, eram proibidos por causa, principalmente, da implantação de um complexo industrial químico nos arrabaldes da cidade. Campanhas massivas eram feitas  nessa época. Todavia era possível ver  pequenos balões aos quais chamavam de chinesinho. O céu, nessa época, ficava salpicado deles. Subiam e logo  caiam. Tinha para quase todo mundo. Valia a pena correr pelos campos orvalhado e espinheiros, atrás de um desses. Com certeza, valiam mais que as varetas dos rojões. Os marmanjos ficavam sempre de alcateia aguardando para assaltar e ainda fazer troças, mas, quase sempre os pequenos conseguiam sair ilesos com seu troféus às mãos.
Conta  a história que certa noite de junho, Natalino se viu em apuros após conseguir pegar um desses balõezinhos.  Quando entrou na rua onde morava, viu-se cercado por uns cinco  garotos mal encarados, da outra vila. Porém com a ginga e rapidez que Deus lhe dera conseguiu driblar um a um até chegar no último que era enorme. Parou à sua frente, gingou pra lá gingou pra cá até conseguir passar por entre as pernas deste como se fosse uma bola  num jogo de futebol. Quando o grande se virou, o franzino Natalino já estava a um tiro de pedra de distância. Embasbacados, não acreditaram no que acabara de acontecer. Prometeram pegá-lo mais tarde, felizmente isso não aconteceu. E assim o menino Natalino chegou em casa levitando de alegria e júbilo pela dupla façanha conseguida.
Na quermesse do senhor João Tibúrcio as famílias se confraternizavam.  Espalhados pelo terreiro, contavam histórias e riam. Alguns namoricos aqui, acolá, alguém pisando em ovos por abusarem demais das bebidas e na vitrola próxima à porta, velhas canções eram ouvidas e dançadas também. Porém os meninos, seguindo um rito tradicional, não tiravam os olhos do céu. O céu que naquela noite estava  se derramando de estrelas, sem contar uma  lua quase crescida, bem na cumeeira da igreja.
 Não demorou e  alguém deu o alarme!
— Um balão! Sussurrou.

Era um balãozinho de seda parda que mesmo se esforçando  não conseguia mais subir, caia num capinzal.
— Vai cair perto dos trilhos, o vento tá mudando.— Afirmou Frederico
— É só nosso, não tem ninguém por perto!.— Confirmou  Natalino.      
Saíram  os três em desabalada carreira até uma várzea onde o balãozinho supostamente havia caído. Mas quando lá chegaram algo diferente chamou-lhes a atenção.
— Ah! não, caramba carambolas o que é aquilo!— Exclamou Natalino, chegando primeiro ao local.
— Esquisito, não é um balão! E como brilha!— Espantou-se Frederico.
— Então vamos sair daqui agora, corram!— Desesperou-se Samuel.
Começaram a correr, Natalino e Samuel, mas Frederico ficou estagnado, olhando aquelas luzes...Gritou natalino:
— Corre besta!
Frederico parecia uma estátua, então os dois voltaram para resgatá-lo, todavia quando chegaram perto um aro de luz azulada prendeu-os pelas canelas, imóveis, apenas mexiam os olhos e o que assistiram nunca mais esqueceriam. Entre  uma fina ramagem estava um objeto em forma cilíndrica com luzes laterais na cor verde, que pairava sobre um riacho que ali  havia e  margeava os antigos trilhos da city. De seu bojo saia uma luz alaranjada que aparentemente parecia recolher água ou outra coisa desse riacho. Não demorou e o facho cor de laranja se recolheu, a nave ou seja o que fosse, deu meia volta e desapareceu silenciosamente no espaço como uma lâmpada que se apaga. Os aros azuis também se apagaram libertando-os. Trêmulos correram o quanto puderam. O balãozinho e a festa, tudo, ficou para trás mas na memória deles, tudo ainda parecia estar acontecendo.
Os dias que se seguiram foram para eles, muito estressantes. Mal se alimentavam, na escola estavam dispersos durante as aulas e quando se encontravam, evitavam falar sobre aquele acontecimento. As marcas deixadas pelos  aros da cor azul, ainda estavam em suas canelas como a provar a veracidade do acontecido, mas aos poucos foram desaparecendo.
É curioso que na história da humanidade sempre se observaram nos céus  tais objetos luminosos e que para cada período deram a eles nomes bem curiosos:
Aristóteles, conhecendo bem  os jogos de lançamento de discos, modalidade esportiva  da época, deu aos objetos observados o nome de discos celestiais.- Alexandre “ O Grande” familiarizado com as armas de guerra comparou-os  com grandes escudos prateados. – Nos tempos das grandes navegações e descobrimentos esses objetos foram chamados de barcos voadores. E seguindo essa tendência, os meninos, agora mais relaxados, chamaram-no de; Tambor voador.
Tudo o que aconteceu naquela noite, ficou então entre eles. porém dali uns quinze dias após, a tranquilidade do lugar foi quebrada e de forma  pouco recomendável.
Era um sábado de manhã e Frederico amanhecera resfriado, coriza abundante e tosse seca. “ Constipação” disse dona Gemima, a avó do menino, ajudando na faxina de final de semana que rapidamente tirou de um pequeno armário uma   espécie de maleta onde havia carreiras de vidrinhos de remédios homeopáticos.
— É gelsemium e pulsatilla disse, destacando dois frasquinhos de cor âmbar e identificados por pequeno rótulo pardo.
Mal o menino dissolvera sob a língua os glóbulos branquinhos e doces do remédio, turuna e os demais cães da vizinhança começaram a latir sem parar. Em meio a isso entrou  Aninha que acabara de chagar da escola, entrou aos gritos dizendo:
— Frederico! Frederico! Tem gente te chamando lá no portão.
— Quem é?
— Ah! não perguntei.
Lá fora havia um automóvel escuro e sem placas. Eram quatro homens de tamanho avantajado e caminhavam como autômatos. Protegiam as feições usando bonés e óculos escuros. Um deles falava com sotaque.
Faziam parte de uma comissão  internacional que investigava eventos sobre   ovinis. Logo o portão da casa estava num burburinho de gente, gente que mal sabia o que estava acontecendo.
— Quem são vocês e o que querem? Perguntou pausadamente seu Bernardo.
Após se identificarem, o pai de Frederico ficou muito preocupado então procurou de todas as formas proteger seu filho. Chamou-o ao lado e pediu que negasse  tudo o que acontecera, o que presenciara naquela noite.
 Todavia aqueles homens eram implacáveis no  interrogatório e  Frederico estava quase em choque, justo pela forma como era abordado, sua cabeça estava num emaranhado de coisas, não conseguia falar duas  palavras na sequência fato. Um dos homens  parecia mais exaltado mas foi logo contido pelos próprios colegas. Nada conseguiam extrair do garoto ficando o ambiente  cada vez mais tenso.  Foi quando apareceu  Samuel e o Natalino. E foram os dois amigos que  acabaram resolvendo a situação. Percebendo o que estava acontecendo, através de gestos disfarçados do interrogado, naturalmente falaram de Gagarin, chegando até a história do Tambor voador...
— Mas vocês estão brincando, isso é uma brincadeira?— Bufou  o que falava com sotaque.
E algumas crianças que haviam participado daquela brincadeira lá  atrás, de forma inocente confirmaram: __ “Brincadeira sim”! inclusive o agente do jornal do bairro que esteve ali presente naquela tarde. Lá no fundo do quintal aquela traquitana ainda estava montada servindo de argumento, menos para aqueles  homens. Tiraram o  encerado que cobria  aquilo... Era difícil saber se estavam constrangidos ou ainda mais  raivosos diante do que lhes fora mostrado. Deram as costas sem nada dizer,  entraram no carro e  aceleraram..
Então o vilarejo voltou à sua normalidade. O ocorrido na  véspera de São João ficou somente entre  os três e seus familiares. Mas como aqueles homens pareciam saber de algo? 

Numa manhã de agosto, reinício das aulas, Frederico e Samuel encontraram o amigo Natalino emburrado e espumando de raiva.
— O que foi cara? Acudiu Frederico.
— Aqueles carapangas da vila de cima me xingaram e disseram que ali não é lugar de negro passar, só isso!
—Aqueles almofadinhas que se mudaram há pouco tempo? Liga não, são uns otários.— Respondeu Frederico.
— É, pra você é simples porque você não é negro. Ainda quebro a boca daqueles filhos da mãe!
Diante daquela ferocidade e quase descontrole  do amigo, prosseguiram até o portão da escola, sem nada dizer.
Infelizmente a vida de Natalino não andava lá muito bem. O pai abusara tanto da bebida que acabou perdendo o emprego. A mãe, com dificuldades para criar os filhos resolveu tirar Natalino da escola e colocá-lo para trabalhar, e assim o fez.
— Não mãe, eu não quero sair da escola não, eu quero estudar ser  piloto de avião!
— Piloto o quê? Deixa de bobagem, você não nasceu pra isso viu? Isso é coisa pra outra gente, você vai é trabalhar é agora, tá ouvindo?
No dia seguinte, com os olhos ainda marejados o menino apanhou a caixa de engraxate que a mãe já havia encomendado e saiu para  ajudar a sustentar a família, adiando ou quebrando para sempre o seu próprio sonho.
A rotina agora era levantar bem cedo e rumar para o centro da cidade, carregando, ao  invés de livros uma pesada caixa de madeira. Com a penúria com que estavam vivendo, sua mãe conseguiu um barraco  no mangue e para lá se mudaram.
Nunca mais  aconteceram a brincadeiras, nunca mais os três. Natalino tinha vergonha se se encontrar com os  amigos. A amizade ficou distante como aquele   sonho que alimentava. Tudo ficou amargo, triste para todos.






CAPITULO-III


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Eu Vagalume



E se eu tivesse sido um vagalume?
Voaria livre pelos campos
E com meu sorriso fosforescente
Seria sempre um promíscuo incorrigível
Porque a noite é breve
E a vida é apenas uma noite!

Ser apanhado por uma ave
Ou por uma rã...quem saberia?
Poderia também ser aprisionado
Pelas mãos dum menino
E esmagado por ele
Como tantas vezes eu mesmo fiz.
E alimentando a curiosidade
E a satisfação me transformaria
Num risco luminoso, esverdeado e frio
E simplesmente
Tudo se acabaria como uma luz
Que vagarosamente se extingue!


De José Alberto Lopes 
Jan 2017


A JANELA



Que invenção mais poética
Poderia um arquiteto?
É por ela, a janela,
Que vejo a chuva, a lua, a rua
As coisas passando
O céu, o véu, o horizonte
O jardim de fronte!
Por onde entra o perfume
A brisa, os sons dos pássaros..
Bem, passaria um dia inteiro a falar
Sobre o que vejo da minha janela,
Mas, há pouco ou quase nada a dizer
Sobre as janelas duma prisão
Ou de uma janela de quem
Se aprisiona a si próprio!



De José Alberto lopes®

Jan. 2017


SERENO...



Minha fronte pesa
Como uma rocha erguida.
Meus olhos são como
óculos embaçados
minhas mãos e pernas
são como varas ao vento!

Sonhei esses versos
E espero que quando
Escrevê-los de fato,
Eu esteja sereno.
Sereno como uma rocha
na paisagem
Sereno como a névoa
Que flutua..
Sereno como o bambu
Na tempestade!


De José Alberto Lopes®

Jan. 2017

domingo, 25 de dezembro de 2016

O Ninho Vazio



No galho de fronte
Há um ninho pequeno
Tramado com amor
Forrado com feno

É uma casa triste,
Jamais habitada
Nunca houve aurora
Em sua sacada!

Lá vejo um berço
Que nunca embalou.
Vazio como a alma
De quem atirou!


De José Alberto Lopes®
dez-16

E assim caminha a poesia




Assim tem sido a minha vida
Depois que passei a escrever de fato.
Logo de manhã numa xícara
De lábio carnudo sorvo um café
Saboroso, enquanto o pensamento
Me absorve por inteiro!

Escrever logo cedo é bom,
Ouvindo ainda o silêncio
Do cantar dos pássaros...
Mas um dia desses
Quase em rebeldia
Perguntei ao meu espelho:
_Se todas as letras e tantas coisas
já foram escritas, ditas,
como pode haver tantas poesias
ainda a escrever?
E o espelho olhando bem nos meus olhos
Incontinenti respondeu:
_Creio que, se é por finitos algarismos
Que se pode contar infinitas estrelas,
Também, é com finitas letras
Que se escreve infinitas poesias...!



de José Alberto Lopes®
dez-16

LILIPUT



Liliput,
Não vos falo pois,
Do pequeno país de Gulliver
Mas, de uma grande paixão!
Que até hoje marca meu peito
Como o gado é marcado!

Um dia após muitos anos
A encontrei numa rua do cais
E lembrei-me de uma canção antiga
Que dizia: - “Estava ela, menos ingênua
E mais bela”
Então, roubei-lhe um beijo
E sua boca era como o vinho:
Que amadurece!

Porém, não era mais
Aquela menina tímida, franzina,
Por quem um dia me enamorei.
Era como a lua
Que tem o encanto de todos,
Mas de fato! Não tem a ninguém.

Mesmo assim, por razões que a própria
Razão desconhece
Liliput, a pequenina, vive ainda
Em meu imaginário grande,
Num país situado no meu lado esquerdo!
Para onde sempre faço minhas Viagens...


De José Alberto Lopes®
dez-16